segunda-feira, novembro 30, 2009

Brado.

Uma alma não pode ficar calada, senão ela muda.
Almas são feitas de gritos ensurdecedores. Do centro - Bruto, duro, vivo e indisciplinável.  Gritos que dão cor ao ouro, da essência antes da essência, desses que fazem desmaiar sem fôlego.
Se ficar a dor chega, sempre chega. E fica e transforma. É preciso viajar, uma alma precisa viajar em outros milhares de olhares, milhões de corações e centenas de cenas. Uma alma precisa da melhor falta e do pior excesso, senão a alma vira corpo e jaula. 

quinta-feira, novembro 26, 2009

Garganta.

Não falava. Era capaz, mas sabia que não devia.
Tinha uma granada sem trava prisioneira na garganta.

De raiva.

Um só som e... a Revolução não seria dessas bonitas de se ver.

A Terra.

A cor desses olhos é da cor da terra. Mancham minhas roupas e minhas idéias. Com todos os seus pecados e sua benevolência. Marrom e ainda azul, azul e ainda cinza, cinza e ainda linda, com esses olhos cor da terra. Olhar de além. Desses que mancham pra sempre. Marca e me diz: "Esse aqui é o único lugar do mundo. Todo momento é o fim e o início do seu precipício".

Vontade de levá-la até onde ninguém mais conhece. Num dos quatro cantos. Onde toda noite chove na calha, e toda manhã, pra te acordar, café na cama. E não há pressa, nem presa. Há só a vontade de fingir que somos tão, tão livres, que o resto do mundo não existe, ou é todo nosso. Esse mundo é todo nosso. Vontade de fingir que somos só eu, você, a janela, e a terra toda nos seus olhos.

terça-feira, novembro 24, 2009

Não é Pedir Demais.

Dois segredos, um de cada lado, duas histórias diferentes, um nó entre as minhas orelhas. Seu jeitinho de "quero ficar" quando está por perto. E nunca fica. Você todo dia me convence de algo novo e todo dia me mostra que estou errado. Parece uma piada sua, interna. Me faz de bobo... logo eu! Dança na palma da minha mão e como a chuva, como o tempo, como a certeza , escapa no vão dos meus dedos. Você é como a inspiração, que me bate, e foge de madrugada. Como a frase perfeita, perfeita, perfeita, que perde o seu momento. Ah, sentir assim é tão raro...

Entenda que eu não quero muita coisa.
No meu peito não há o prisão - a vida é muito grande. É preciso viver as menores coisas e, claro, as maiores. Entre meus pormenores e minhas manias de grandeza, eu só queria escrever um verso que alcançasse você.

terça-feira, novembro 17, 2009

No Banho, a Diferença.

O coração dela era de sabonete, o meu era de esponja.
Quando a gente se encontrava era espuma para todo lado.

Mas ela escorregava
E eu absorvia.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Verão.

Ela é a melhor sensação de todas.

Aquela delícia de chuva que cai depois de uma tarde quente e abafada.
Que alaga o sorriso,
Ela é como respirar novamente.

Ela é aquela culpa boa por estar na rua, por molhar toda a roupa,
Mas lavar a alma.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Outona

Se eu te comparo a um dia de outono,
É porque você é fria e ainda assim confortável.
É porque você é como as folhas que caem:
Leves e lindas
E secas.

É porque os dias de outono são longos e invencíveis dentro de mim.
Não há linhas exceto o exceto,
E o tempo dessa eterna estação.
Amável e ainda assim não-amada.

A não ser por mim.


Eu sei que estou versando na estação errada.

Faltante

O verso é a catacrese para a alma.

Ampliação.

Todo verso é uma paráfrase própria.

Grande Coisa.

Eu quis fazer uma flor de papel pra menina dos olhos de vidraça. Menina a personalidade de brasa, que me reconhece e me faz perder a linha. E eu que achei que os livros se terminavam com tanta pressa, quando os melhores livros são tão maiores que as páginas. Há o sol, há o início e há a madrugada. Brindo com a lua sentado na praça, encarar essa menina é escrever achando graça a minha carta de suicídio. Eu dou risada da situação com minha caneta na mão, assinando com leveza. Não há conflito, meu sim e meu não se beijam indiscretamente, na sua frente.
Me enrolo com as palavras, mas não há conflito, foi só um verso que eu deixei calar e perder pelo caminho.

Eu quis te fazer uma flor de papel.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Sobre o nada.

Todo tudo tem tanto todo quanto quase.

Dialogando

- Eu não agüento mais você. Eu não quero mais as suas ameaças.
- Isso não é uma ameaça, isso é a verdade. Na ameaça cabe o blefe, à verdade só cabe acontecer. Isso significa que eu já puxei o gatilho, só falta você apontar pra onde.

terça-feira, novembro 10, 2009

- Vai um óleo aí?

O coração é um motor possante, com turbo e nitroglicerina. Valvulado, engrenado, pronto pra quebrar de tanto acelerar a cada momento. Em choque, overdose, fumaça, poluição e asfalto.

Íntimo engenho.
Um quadro feio de se ver,
E lindo de se viver.

A cena era a mesma. Mexi na iluminação e não era, mas parecia um novo ângulo.

Minha vida fica cada vez mais cinematográfica. Atrizes com pouco talento e beleza de sobra. Uma trilha sonora inesquecível, takes de vertigens e loucuras impossíveis. Cenários e cenários. O mundo cabe numa tela e eu já assisti e atuei, nas chuvas mais felizes e nas tardes ensolaradas mais tristes. Elas eram os mesmos dias... Os mesmos.

Na verdade o que muda o filme todo dia, é que como faço a minha própria fotografia.

terça-feira, novembro 03, 2009

Força Minha.

Não haverá mais escrúpulo, minha vontade é feita de ferro. Vou ser casa que mesmo sem teto, tem alicerce maciço. Vai chover, eu sei, mas valerá a força minha. Imenso, batido. Não haverá dedicação, haverá a pureza do choque - poemas não feitos de pontuação. Eu nunca soube usar vírgula e quando enfim consegui, descobri que é preciso desaprender tudo, sempre. Por isso, serei intuição e esquecimento, força do coração e fé dos braços, um sinal de inércia, um buraco vago de rotinas. Não haverá escrúpulo, nem alva, nem crepúsculo. Estou partindo para desescrever os meus dias.

Ah...

A saudade é uma maratona.