O meu azar começou a um mês, e nunca mais acabou. Acreditem em mim quando eu digo que TUDO que podia dar errado, deu. Eu tentei ser otimista, dar risada da minha desgraça, pensar que eram coisas pequenas e que eu devia seguir em frente. Dia-a-dia, algo me aconteceu. E não é porque eu fui desatento ou destrambelhado, nada disso. Algumas coisas tem acontecido comigo e a sua razão vai com certeza além do compreensível. Eu quase chorei algumas vezes nesse mês, vocês me entendam - eu só choro quando eu realmente preciso.
Ontem foi um dia normal, coloquei minhas coisas na mochila normalmente. Mas Deus, ou sei lá que Diabo, decidiu que eu precisava de mais um acontecimento. Hoje quando fui olhar minha mala o desodorante disparou e molhou todo os meus cadernos. O álcool transforma a tinta numa grande mancha azul. Meu moleskine, estava entre os cadernos.
Eu perdi todos os meus textos hoje.
O meu sentimento é inexplicável. Nem vou tentar passar isso pra vocês. O acaso, ou Deus, ou o Diabo, ou uma energia de soma de todos os meus atos com os atos dos outros, decidiu que era hora de apagar tudo o que eu tinha construído nos últimos tempos. Acertaram no meu ponto fraco, na única coisa que me mantêm forte. Meu moleskine, contei pros meus amigos, era minha melhor aquisição financeira que eu comprei na minha vida. Mas eu não sabia que mais do que isso era a minha melhor aquisição sentimental também. Hoje, eu consegui ver isso.
Hoje eu fui derrubado como nunca antes na minha vida. Quem me conhece sabe que meus tropeções foram imensos, eu diria que, hoje eu estar aqui é a única razão pra dizer que esses tropeções não destruiriam uma pessoa. Quem me conhece sabe também que todas essas vezes eu resisti porque tinha um lugar onde jorrar todas as minhas... sei lá como se chama. No meu caso nesses últimos meses, era o meu moleskine. Hoje uma coisa dentro de mim morreu. Morreu como se nunca estivesse ali. Isso não tem nome, não tem cor, nem peso. Eu perdi o apreço pela bondade, ela nunca me trouxe nada. NUNCA.
Vou dar um tempo, queimar essa porra e tentar começar de novo. Algum dia desses. Não hoje e nem amanhã e nem essa semana. Eu não consigo. Não consigo entender, não consigo chorar, não tenho um rosto em que bater, não tenho algo para me fazer esquecer, esse sentimento não passa.
Numa página irônica de tudo isso, eu tinha um poeminha escrito em letras grandes e tomavam a página inteira, do qual me lembro porque era recente:
"O copo está todo vazio,
O copo está todo cheio.
O copo está todo vazio,
O copo está todo cheio.
Sede boa é insaciável."
O álcool nessa página pegou só até a metade e o que sobrou do poema foi:
"O copo está todo vazio," e uma metade de cima da frase seguinte, o que deixa tudo ilegível. Eu não teria porque mentir hoje, não tenho porque exagerar e nem consigo criar nada. Não consigo.
Eu nem sei o que dizer. Só sei que "morrer de raiva" é uma expressão tola e que tem também o uso banalizado. As pessoas não morrem de raiva.
As pessoas não morrem de raiva. Não morrem.
As pessoas não conseguem morrer de raiva. Raiva.
Raiva.
Ou eu estaria morto.
Desescrevendo:
Em toda tinta que derramava, havia também a origem do branco.