sábado, junho 20, 2009

Estou dando um tempo. (Ou As pessoas não morrem de raiva)

Gente que visita aqui, eu sei que são poucos mas a existência desse blog é feito pra me expressar. Eu tenho um moleskine, um caderninho onde anoto todos os meus textos. Assim eu guardo meus textos, e solto eles de tempo em tempo aqui, por preguiça de digitar e tudo mais. Digitar não me apetece. Eu tenho uns 40 e poucos textos guardados lá.

O meu azar começou a um mês, e nunca mais acabou. Acreditem em mim quando eu digo que TUDO que podia dar errado, deu. Eu tentei ser otimista, dar risada da minha desgraça, pensar que eram coisas pequenas e que eu devia seguir em frente. Dia-a-dia, algo me aconteceu. E não é porque eu fui desatento ou destrambelhado, nada disso. Algumas coisas tem acontecido comigo e a sua razão vai com certeza além do compreensível. Eu quase chorei algumas vezes nesse mês, vocês me entendam - eu só choro quando eu realmente preciso.

Ontem foi um dia normal, coloquei minhas coisas na mochila normalmente. Mas Deus, ou sei lá que Diabo, decidiu que eu precisava de mais um acontecimento. Hoje quando fui olhar minha mala o desodorante disparou e molhou todo os meus cadernos. O álcool transforma a tinta numa grande mancha azul. Meu moleskine, estava entre os cadernos.

Eu perdi todos os meus textos hoje.

O meu sentimento é inexplicável. Nem vou tentar passar isso pra vocês. O acaso, ou Deus, ou o Diabo, ou uma energia de soma de todos os meus atos com os atos dos outros, decidiu que era hora de apagar tudo o que eu tinha construído nos últimos tempos. Acertaram no meu ponto fraco, na única coisa que me mantêm forte. Meu moleskine, contei pros meus amigos, era minha melhor aquisição financeira que eu comprei na minha vida. Mas eu não sabia que mais do que isso era a minha melhor aquisição sentimental também. Hoje, eu consegui ver isso.

Hoje eu fui derrubado como nunca antes na minha vida. Quem me conhece sabe que meus tropeções foram imensos, eu diria que, hoje eu estar aqui é a única razão pra dizer que esses tropeções não destruiriam uma pessoa. Quem me conhece sabe também que todas essas vezes eu resisti porque tinha um lugar onde jorrar todas as minhas... sei lá como se chama. No meu caso nesses últimos meses, era o meu moleskine. Hoje uma coisa dentro de mim morreu. Morreu como se nunca estivesse ali. Isso não tem nome, não tem cor, nem peso. Eu perdi o apreço pela bondade, ela nunca me trouxe nada. NUNCA.

Vou dar um tempo, queimar essa porra e tentar começar de novo. Algum dia desses. Não hoje e nem amanhã e nem essa semana. Eu não consigo. Não consigo entender, não consigo chorar, não tenho um rosto em que bater, não tenho algo para me fazer esquecer, esse sentimento não passa.



Numa página irônica de tudo isso, eu tinha um poeminha escrito em letras grandes e tomavam a página inteira, do qual me lembro porque era recente:
"O copo está todo vazio,
O copo está todo cheio.
O copo está todo vazio,
O copo está todo cheio.
Sede boa é insaciável."

O álcool nessa página pegou só até a metade e o que sobrou do poema foi:
"O copo está todo vazio," e uma metade de cima da frase seguinte, o que deixa tudo ilegível. Eu não teria porque mentir hoje, não tenho porque exagerar e nem consigo criar nada. Não consigo.

Eu nem sei o que dizer. Só sei que "morrer de raiva" é uma expressão tola e que tem também o uso banalizado. As pessoas não morrem de raiva.

As pessoas não morrem de raiva. Não morrem.
As pessoas não conseguem morrer de raiva. Raiva.

Raiva.
Ou eu estaria morto.


Desescrevendo:
Em toda tinta que derramava, havia também a origem do branco.

sexta-feira, junho 19, 2009

Mérito

A miudez dos imensos será notada e escandalizada, a imensidão dos miúdos será notada e abafada. O senso comum é um rei ruim. E o marginal é distorcivelmente lindo. Um bobo da corte cujo único mérito é ser bobo, mas reinaria bem como ninguém.

Encantadores

O fogo encanta fácil, os olhos ardem de encanto. E enquanto uns se queimam tentando guardá-lo, outros em paz, curtem seu afago inapagável e sua tranquilidade estonteante. Só por preservar a liberdade do fogo ser quem é.

O fogo, como tudo o que fascina, como todos encantadores, vivem por lei seus encantos e suas dores.

Reticências.

Não peço que goste, nem mesmo respeite meus poemas. Mas se for me ler um dia, só lhe peço: leia me... devagarinho.

terça-feira, junho 09, 2009

Pouso Raro

Ela é passaro de asa quebrada.
Verão de andorinha, pena de pavão.
Leveza de beija-flor, lembrança de bem-te-vi.
Foi despencar na minha mão,
pra minha surpresa e perdição.

Sei que o caminho de passarinho é vento.
Mas, passarinho de pouso raro,
Conserto a tua asa, ou te planto num vaso?
Pra não ser minha
Mas também
De mais
Ninguém.

Canta como um canário,
E eu canto canalha.
Com uma gaiola
No lugar
Do coração.

Desescrevendo:
Não sabia voar, e não soube dar asas.

segunda-feira, junho 08, 2009

Troco da Padaria

Todo dia ia, não que houvesse a necessidade, já vinha com o café da manhã tomado de casa. Mas sempre perdia um tempo, sempre pedia uma garrafa de água, só pra poder vê-la. "Até que é revigorante, uma água pela manhã." - discurso de fracassado. "Só vai querer a água? São R$0,90." - ela falava linda de morrer sem levantar os olhos, sem erguer o rosto. O troco, tão pouco, lhe divertia. Todo dia ele insistia que não precisava, todo dia ela deixava as moedas no balcão e não dizia nem mais uma palavra. A tolice diária o consumia, deixava sua cabeça cheia de idéias, cheia de mais imaginações. Foram meses até que pudesse tomar coragem, mas naquele dia, tocou sua mão com carinho, quando ela foi lhe dar o devido dinheiro pra que ela pudesse olhá-lo ao menos uma vez. Seu rosto então se levantou e revelou os olhos mais lindos e azuis que conheceu, intensos, densos.

Mas tinha algo errado com aquele olhar - ele tinha de tudo, mas tinha mais desprezo... desprezo. E ele então, virou ninguém. Pior que fracassado, um ninguém que não ia muito bem de coordenação motora e esbarrou na mão dela. Mais um ninguém. Aquele olhar, tomou a decisão pro resto da vida, aquela pessoa, e todos os pensamentos bonitos dirigidos a ela, mas mais do que tudo aqueles olhos não lhe valiam mais, nada daquilo lhe valia, nem o troco da padaria.


Desescrevendo:
Mesmo sob uma rima tola, se vive uma vida toda.

quinta-feira, junho 04, 2009

Um Variável, Uma Variável

O ódio vem sempre de graça, por isso deixo. Deixo que odeiem quem sou sem problemas.
Mas me amar é mais difícil, não deixo que ninguém me ame como sou. Não exercite a minha estagnação, eu sou passante. Ame o que eu não sou ainda, pra se acontecer de eu amar de volta, que eu possa ir além do que eu sempre iria. Não há espaço para autopreservação, nem se manter, os amadores se transformam, os amantes transformarão. Se esse presente servisse não teria passado. Se servisse mais, seria uma meta.

Meu futuro é ar, ou ausência. Mas com o amor-do-que-não-é, meu futuro vira vento e eu sou, mesmo, um passante.

quarta-feira, junho 03, 2009

O amor tem T.O.C. demais pra mim.