segunda-feira, junho 08, 2009

Troco da Padaria

Todo dia ia, não que houvesse a necessidade, já vinha com o café da manhã tomado de casa. Mas sempre perdia um tempo, sempre pedia uma garrafa de água, só pra poder vê-la. "Até que é revigorante, uma água pela manhã." - discurso de fracassado. "Só vai querer a água? São R$0,90." - ela falava linda de morrer sem levantar os olhos, sem erguer o rosto. O troco, tão pouco, lhe divertia. Todo dia ele insistia que não precisava, todo dia ela deixava as moedas no balcão e não dizia nem mais uma palavra. A tolice diária o consumia, deixava sua cabeça cheia de idéias, cheia de mais imaginações. Foram meses até que pudesse tomar coragem, mas naquele dia, tocou sua mão com carinho, quando ela foi lhe dar o devido dinheiro pra que ela pudesse olhá-lo ao menos uma vez. Seu rosto então se levantou e revelou os olhos mais lindos e azuis que conheceu, intensos, densos.

Mas tinha algo errado com aquele olhar - ele tinha de tudo, mas tinha mais desprezo... desprezo. E ele então, virou ninguém. Pior que fracassado, um ninguém que não ia muito bem de coordenação motora e esbarrou na mão dela. Mais um ninguém. Aquele olhar, tomou a decisão pro resto da vida, aquela pessoa, e todos os pensamentos bonitos dirigidos a ela, mas mais do que tudo aqueles olhos não lhe valiam mais, nada daquilo lhe valia, nem o troco da padaria.


Desescrevendo:
Mesmo sob uma rima tola, se vive uma vida toda.

2 comentários:

Nina disse...

você nasceu pras palavras e vice-versa!

@ThayG12 disse...

e se nunca tivesse tentando?