sexta-feira, julho 31, 2009

O mundo contra a minha dor, eu a favor do mundo.

quinta-feira, julho 30, 2009

Muro-Verbo

De frente com o muro compôs, maquinou, borrou, iluminou, riscou. Destruiu, coloriu, escreveu, gravou, desescreveu. Tingiu, esboçou, sujou. Musicou, acrescentou, apagou, eternizou, delineou, condenou. Entorpeceu, representou, marcou sua alma. Sua alma. Para que quem passasse rotineiro, pudesse sentir que ali alguém se destruiu e se arremessou por completo. Tomou posse daquele plano imenso, inquebrável. Como se seus braços e pernas e dúvida e sonhos e fúria e loucura e amor fossem feitos de tinta.

Com uma idéia, palavras e nenhuma ferramenta, sua mensagem significava cada letra:
"Um poema na mente vira a ausência da parede".



Não sei desescrever esse poema

terça-feira, julho 28, 2009

Prato Predileto.

Não era um ruminante de verdades. Não aceitava nada. Todo dia era um outro, fazia o que um outro, o inesperado, fazia, desejava como nenhum outro já fez. Assim, abraçando todos os pontos de vista que lhe cabiam os olhos, transformava toda realidade antes que ela se fizesse presente. Com poesia, euforia ou harmonia, com alegria, com demasia. "Todo dia o dia será menos como é, e será mais como sou." Não sabia o seu gosto preferido e não via problema. Ainda tinha muitos que não conhecia, tinha tantos que inventava, tantos que fascinava. Vida mastigada é um desperdício. Não havia tempo e não há, tanta vida sobra toda hora...

Não se rumina,
vida
se
engole.


Migalhas que fazem salivar um banquete, satisfazem.

domingo, julho 26, 2009

In-Coerente

Acho que um dia desses eu vou implodir ou coisa parecida. Vou cercar minha casa, sem entrada nem saída, em volta e por cima, cercar os olhos e meu peito por dentro e por fora. Ou eu seco ou eu não caibo mais em mim - não sei direito como funcionam essas coisas.
Deixa eu tentar explicar:
Pra alguém que se apaixona tanto (intensa e imprevisível, ainda assim repetitivamente), eu acho que eu tenho desapaixonado de menos.


O jeito que eu tinha pra falar os nomes dela, já não acompanhavam mais o desenho da minha boca.

sábado, julho 25, 2009

Poema Bobo da Invenção das Estações

Pergunte ao outono quem é a primavera, ele não conhece, não. São duas estações tão distintas, divididas por outras tão duras. Que absurdo entender a tal primavera, cadê o friozinho bom, o sol que não esquenta, a carícias da queda folhas? E o céu, que cor senão prata? Ele é outono, ela é primavera, combinam tanto e nem imaginam. Ela pelos olhos, ele pelo tato, época boa pra namorar. Leves, sutis, opostos. Porque é que primavera e outono, coitados, não podem sair pra namorar? Ela colorida de flores, amores, pássaros e sabores tantos, ele tão aconchegante, de mangas compridas, aromas, beleza e o tempero certo da temperatura. No meu sonho, ele a tira pra dançar e faz um carinho na nuca, que fica toda arrepiada. Ela então, olha fundo em seus olhos, ele fica extasiado, como pode alguém ser tão bonita? Ela cheira o perfume dele, não resiste e dá um beijo de flor. Ele nunca pararia de sentir aquele gosto bom que toma a boca toda. Uma pena - o sonho, tão ameno e gracioso, tem que terminar. Mas pense como seria bom se não houvesse inverno nem verão.

As estações mais romanticas não sabiam namorar

sexta-feira, julho 24, 2009

Reflexão.

A vida está no olhar dos olhos dos olhos no olhar.

quinta-feira, julho 23, 2009

A Refazenda e a Natureza

Existe um homem. Ele havia perdido a linha da vida, como uma borboleta que esqueceu o que é ser borboleta e virou lagarta. Não que regredisse - ele só esqueceu. A essência de um homem sempre será sua. Um casulo quer voar, um casulo quer rastejar, um casulo quer ser casulo afinal. Não evoluímos, somos. Somos e mudamos de tempo, nele todo bem e mal causado, são bondades e maldades próprias. O mundo não tem culpa, ele só incentivou o homem a ser menos outros homens.
Aquele que caiu, perdeu a linha porque sua linha é ser perdida, sua linha era se perder e cair.
Existe um homem, e ele está em todo lugar.

Sua força e fraqueza (se for essa sua pureza) serão despertadas e não plantadas. Somos única semente do que somos. Não há terra, não há adubo, não há chuva que faça com que outra semente, que não a nossa desperte em nosso peito.

E quanto ao homem que havia caído, fique tranquilo. A queda do homem, era feita de força pra levantar. O homem era feito de queda, e era depois... feito do homem que seguira a caminhar.


Desescrevendo:
O casulo era feito de asas.

Re-Corrente Sanguínea.

Isso é um ciclo vicioso, viciado, viciante. Maus hábitos sempre vêm à tona. Ainda bem... Se por um lado eles te enchem de culpa, por outro, eles te enchem por completo.


Desescrevendo:
Corrupto, completo, impuro, claro, corrompido, real, ilícito e delicioso.

segunda-feira, julho 20, 2009

A vida é dura. Nem os segundos serão os primeiros.

sexta-feira, julho 17, 2009

Conto da Tinta dos Olhos (ou O Ideal)

Acho que vou me arriscar nos contos.

Tudo estava muito claro. Quando nasceu havia a paz. Por todos os lados, seus olhos castanhos, tão facilmente encantáveis, deslumbravam o branco das peles das meninas, seus sorrisos brancos e seus abraços brandos. Havia a natureza e os homens e as máquinas e todas caminhavam tranquilamente. Lucidez. Um poço claro. Cresceu um belo jovem e a felicidade, que se mantinha lá por tanto tempo, o preencheu enquanto pôde. Mas o menino se questionou, queria alegria, queria a futilidade e o descompromisso, queria entrar mais um pouco na sua cabeça, e no que existia além dela. Ele então se escondeu na maior solidão que encontrou, perdido em seus piores pensamentos e depois de vastos segundos, talvez por azar, ele chorou. Uma lágrima azul-marinho. O que era um choramingo deu abertura aos soluços e um choro inconsolável, com berros, tremedeiras, movimentos bruscos.

Lagrimas caíam como a chuva. Primeiro o azul cor de tinta fez o menino ter medo. Mas a mancha não parou. Ele chorou mais e mais, manchou suas roupas tão sóbrias, seus tênis e depois a calçada e a avenida. As pessoas se assustavam, nunca tinham visto alguém chorar, ainda mais daquele jeito.

Depois a cor rosa algodão-doce, depois o verde aroma de campo, vermelho sangue... Ele choveu lágrimas de todas as cores e quem quer que se molhasse um pouco, perdia a paz de seus dias, nasceu cores novas e tudo que era claro, ficou confuso. O amor se perdeu, e as pessoas desesperaram e correram e quando pararam elas se olharam como se não tivessem nada. E um tempo veio e um sentimento mais forte nasceu no peito dos que conseguiram mudar e preencheu como nenhum tinha até então.

A paixão pulsava visivelmente nos olhos e as cores todas saíram de suas idéias, expressões e palavras, que agora eram eternas, duras e mutáveis a cada momento. O menino, agora com olhos cor de cobra coral, nunca mais foi visto. Mas há o boato de que após chorar dias, o menino gargalhou. E caminhou sem pressa de viver, para a lua baixa com cor de seus olhos.



Desescrevendo:
A questão era contagiosa. Por isso, virou poeta.