quarta-feira, outubro 28, 2009

A memória de Amélia.

Um homem segue, é noite, é só, é tudo o que deveria ser. Segue o quanto cabe nos passos, carregando o mundo na cabeça e a chuva nas costas. Os postes iluminam as ruas já molhadas, reflexo, e o asfalto parece feito de ouro. Ele sabe: nós todos lutaremos e amaremos e nos perderemos. E o tempo levará tudo o que há de mais precioso na nossa vida. O tempo levará. Nossa vida. Aos bravos e bondosos não sobrará muito além de um senso de justiça ridícula, irônica, irreal. Deus estará na chuva e o Inferno no asfalto e no ouro e no outro, no chão de todo chão.
Não há coração, há somente o batimento, um tapa na cara, a ilusão do firmamento e a dor do esquecimento.



Minha vó lembra de cor aniversário de filhos, netos, bisnetos, dias de santos, datas e nomes e situações. Minha vó lembra meu nome.
Minha vó lembrava.

2 comentários:

André disse...

As palavras carregam um significado muito pequeno para se definir o sentimento de uma perda e o tamanho de um amor.
Mesmo assim seu texto brilhou como o Sol que ilumina a esperança do nascer de cada dia.
E vai continuar brilhando no ouro do chão e no compasso do coração.
Cada passo é sempre um passo a mais.
Ninguém pode parar.
Ninguém ficou pra trás.

André disse...

Cara, deve ser FODA.
E quanto à sua pergunta: acho que isso depende da vontade de Deus.
Às vezes Ele faz um dia mais claro que o outro.
Talvez esteja for do nosso controle.