quarta-feira, agosto 26, 2009

O Ralo e o Chuveiro.

Viver é um ralo. A gravidade é a essência do todo. Todas as coisas caem, tudo se perde. Os risos, os panos, os livros, os ônibus, canções - todas elas se gastam. Se perdem num buraco no meio da sala. É preciso que caiam, haveriam muitas coisas para usar, para amar, para sentir o cheio. Enquanto observo como criança tudo escapando com a água pelos buracos pequenos na plaquinha de metal, vejo os fiapos, as notas, as letras, as unidades caídas se amontoando.
"Era hora de ir embora". Todos têm uma hora.
Mas se todos se vão, em algum lugar chegam. Fico imaginando elas, algumas se prendem no esgoto, outras são jogadas ao mar para as barbatanas e corais, outras logo evaporam, umas voam pro resto da vida nas asas de quem as mereça. Partes viram nuvem e chovem no seu telhado, na sua roupa, na sua vida, e viram o seu sorriso.

A chuva já foi água de rua.

Um comentário:

André disse...

Sutil e classudo.
Irado.